Coisinhas da Professora Ivanete

2 de mai. de 2009

A bolsa amarela

De vez em quando, a família de Raquel recebia de uma tia uns pacotões com roupas, bolsas e sapatos seminovos. Raquel, bem menor que os irmãos, nunca ficava com nada. Mas naquele dia...

Aí aconteceu uma coisa diferente: de repente sobrou uma coisa para mim.
- Toma, Raquel, fica pra você.
Era a bolsa.
A bolsa por fora:
Era amarela. Achei isso genial: para mim amarelo é a cor mais bonita que existe. Mas não era um amarelo sempre igual: as vezes era forte, mas depois ficava fraco; não sei se porque ele já tinha desbotado um pouco, ou porque já nasceu assim mesmo, resolvendo que ser sempre igual é muito chato.
Ela era grande; tinha até mais tamanho de sacola do que de bolsa. Mas vai ver ela era que nem eu: achava que ser pequena não dá pé.
A bolsa não era sozinha: tinha uma alça também. Foi só pendurar a alça no ombro que a bolsa arrastou no chão. Eu então dei um nó bem no meio da alça. Resolveu o problema. E ficou com mais bossa também.
Não sei o nome da fazenda que fez a bolsa amarela. Mas era uma fazenda grossa, e se a gente passava a Mao arranhava um pouco. Olhei bem de perto e vi os fios da fazenda passando um por cima do outro; mas direitinho; sem fazer bagunça nem nada. Achei legal. Mas o que eu achei ainda mais legal foi ver que a fazenda esticava: “vai dar pra guardar um bocado de coisa aí dentro”.
A bolsa por dentro:
Abri devagarinho. Com um medo danado de ser tudo vazio. Espiei. Nem acreditei. Espiei melhor.
- Mas que curtição! – berrei. E ainda bem que só berrei pensando: ninguém escutou nem olhou.
A bolsa tinha sete filhos! (Eu sempre achei que bolso de bolsa é filho da bolsa). E os sete moravam assim:
Em cima, um grandão de cada lado, os dois com zíper; abri-fechei, abri-fechei, abri-fechei, os dois funcionando bem que só vendo.
Logo embaixo tinha mais dois bolsos menores, que fechavam com um botão. Num dos lados tinha um outro – tão magro e tão comprido que eu fiquei pensando o que é que eu podia guardar ali dentro (um guarda-chuva? Um martelo? Um cabide em pé?). no outro lado tinha um bolso pequeno, feito de fazenda franzidinha, que esticou todo quando eu botei a Mao dentro dele;
Botei as duas mãos: esticou ainda mais; era um bolso com mania de sanfona, como eu ia dar coisa pra ele guardar! E por ultimo tinha um bem pequenininho, que eu logo achei que era o bebê da bolsa.
Comecei a pensar em tudo que eu ia esconder na bolsa amarela.
Puxa vida, tava até parecendo o quintal de minha casa, com tanto esconderijo bom, que fecha, que estica, que é pequeno, que é grande. E tinha uma vantagem: a bolsa eu podia levar sempre a tiracolo, o quintal não.
Lygia Bojunga Nunes
A bolsa amarela

Estudo do texto:
1 – responda:
A – Quem está narrando a história?
Uma menina, Raquel.

B – Como Raquel se sentiu com o presente que ganhou?
Sentiu-se alegre, contente.

C – Na sua opinião, por que Raquel berrou só em pensamento ao examinar o interior da bolsa? Pessoal...

D – Para Raquel, o que a bolsa tinha em comum com o quintal de casa?
Para Raquel, a bolsa e o quintal tinham em comum muitos esconderijos.

E – E que vantagem ela viu na bolsa em relação ao quintal?
A vantagem de levar a bolsa em qualquer lugar.

F – O que você achou na bolsa amarela? Pessoal...

G – E de Raquel? Por quê? Pessoal...

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